Acordei hoje com o conto O Urubu e a Vitória Régia invadindo meus pensamentos. Li essa fábula num livro de português adotado pela escola primária, quando tinha uns 9 ou 10 anos e fiquei tão encantada que a decorei. Hoje, passados mais de 50 anos, ainda me lembro de algumas passagens dessa fábula e creio que entendi bem a moral nela contida, apesar de menina.
Malba Tahan, nome que constava no meu livro de infância como autor do belo conto, é o heterônimo do autor Júlio Cesar de Melo e Souza, matemático, professor e escritor de extrema criatividade e muitos livros editados. Nasceu em 6/5/1895 e faleceu em 18/6/1974.
Considerando o mundo preconceituoso em que vivemos, o conto de Malba Tahan descreve, de forma muito poética,o preconceito tão presente ainda hoje. Marcou positivamente a minha infância, como tantas outras leituras, que me estimulam todos os dias a resgatar lembranças, sentimentos e emoções que vivi.
O Urubu e a Vitória Régia
Pobre urubu, certo dia
foi justamente pousar
sobre uma relva, onde havia
reinando, com todo o seu esplendor
a linda vitória-régia
vestida de nívea cor
Bendita sejas Vitória
rainha de graças mil
eu te aclamo
flor das flores do Brasil
Ia ficar sem resposta
a saudação
mas ao fim a altiva Vitória-Régia
voltou-se e falou assim:
olha lá como me falas
oh atrevido Urubu
ante a minha majestade
oh infeliz quem és tu?
Quem és tu que não te curvas
negro da cor de retrós
pesa melhor a distância
imensa que há entre nós
O urubu caiu das nuvens
de tão espantado ficou
só depois de haver passado
longo tempo assim falou:
que nasceste cor da neve
que és rainha sei bem
mas não te esqueças vaidosa
que eu nasci branco também
não te esqueças que embora
eu viva assim de léu em léu
Tu vives presa no lodo
E eu vivo livre no céu
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