Trair não combina com os que se unem para viver uma história e formar uma família. Se começam a existir problemas no relacionamento, quanto mais o casal se cala e se distancia, não se abrindo ao diálogo, mais possibilidades há de que uma das partes, geralmente o homem, venha a transgredir para ver se acontecem novos e interessantes momentos diferentes dos que está vivendo e suportando, por não saber lidar com sentimentos conturbados. E por natureza, quando é descoberto traindo, terá um pouco mais de chance de ser “perdoado” e aceito de volta pela mulher, filhos e família. Quando a traição é da mulher, precisará de muitos argumentos para se defender e ainda assim, não será facilmente perdoada e terá o peso nos ombros da destruição da família. A traição normalmente acontece em momentos de insatisfação, quando não se diz o que realmente sente e pensa e acha que vai ficar tudo bem depois, não importando o tempo de convivência. Nas relações de muitos anos e aparentemente estáveis, muitos casais acabam vivendo mais como irmãos, acostumados um com o outro pelo tempo vivido, pela família construída, mas falta interesse em sexo, seja pelo desgaste do tempo, pela responsabilidade familiar, pela rotina que a vida a dois impõe e, por isso, acabam se isolando, pois não conseguem resgatar a fórmula mágica do encanto, do carinho e da atração do passado. Ainda assim, os problemas não são colocados com clareza e honestidade e não assumem que precisam falar muito sobre seus sentimentos para tentar reverter e resgatar a cumplicidade e o afeto que já compartilharam um dia.
A procura de novas sensações acaba acontecendo, embora sabendo do risco de comprometer um casamento, filhos ou mesmo um namoro sério, pois ao se sentirem sozinhos, de alguma forma, e não encontrando respostas às perguntas que nem bem sabem fazer com lucidez, homens e mulheres buscam o que nem sabem bem o que, além da necessidade de preencher um vácuo e tentar depois ver como conduzirão a situação, pois no fundo, sempre existe a esperança que encontrarão respostas e, a partir delas, terão mais satisfação e poderão levar melhor seu dia a dia rotineiro em família. E enquanto não são descobertos, os que traem têm a ilusão que darão conta do recado fora e dentro do lar e que sairão da tentação na hora que quiserem, podendo voltar sem muitas explicações, principalmente quando vivem relações de muitos anos. Consideram que a transgressão nada mais é que uma pulada de cerca bem controlada e se sentem à vontade para voltar ao quintal antigo, onde ainda existem arquivos vivos de uma história de vida construída com alguém que não quer perder, embora não haja mais tesão e interesse para viver uma relação plena e saudável. O fato é que nem sempre a volta se dá facilmente aos que traem; aquele que crê num retorno fácil, se espanta quando percebe que a tranca do portão não é a mesma, muito menos quem mudou a tranca. Esquece que a pessoa traída pode também reagir ao descobrir, pois quem trai, com o tempo também se trai em palavras, ações e situações. E a cada deslize, a atenção do traído se concentra mais em observar os detalhes; e há muitos detalhes nas entrelinhas quando se trai, como viver na lua, fora do ar, sempre muito ausente também fisicamente, além de falhar nas horas mais íntimas, pois não consegue se libertar a ponto de se dedicar a duas pessoas com o mesmo bom desempenho. A traição começa a ser percebida, principalmente, em baixo dos lençóis.
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