A correria da vida moderna nos torna, de certa forma, insensíveis ao que está fora da nossa programação. Não sobra tempo para relaxar e apreciar o essencial que a vida nos proporciona.

A prioridade do homem está raramente voltada para o Ser e o Ter ganhou um espaço privilegiado, tornando as pessoas solitárias e inflexíveis nas suas buscas, esquecendo que há outros prazeres e emoções que o dinheiro não compra e que nem sempre vale a pena perder o couro para ganhar o ouro, que se desvalorizará  aos nossos olhos quando percebemos que não era bem assim que o imaginávamos.

Há uma certa austeridade rondando em nós, bloqueando nossos sentidos. Nosso olhar torna-se fosco, incapaz de perceber e viver as pequenas alegrias do dia-a-dia, pois vivemos no  limite, acelerados e motivados mais para cruzar oceanos, esquecendo que os rios e córregos são também opções . Criamos grandes planos para administrar nossa ascensão, mas o nosso coração clama por  mais  sutileza e delicadeza que já não temos, porque não as alimentamos.

Não há mais tempo para relaxar e ver o dia de um jeito diferente, a nosso favor, no resgate do nosso eu em troca de um pouco de paz. Desacostumados estamos a pensar uma coisa de cada vez; é preciso pensar muitas coisas e realizar tudo, se possível, num só dia, sempre acrescentando mais coisas para encher a nossa tão desconstruída agenda. Falta um pouco de ócio que contribue e é necessário também à leveza do ser.

Nosso dia, o atravessamos  entre múltiplas ações e completa exaustão; com o ânimo muitas vezes  alterado, somos incapazes de perceber o dia real, de sol ou de chuva, que se apresenta a nós, diferente do nosso dia negro e turbulento.  É preciso que nos vejamos dentro desse dia real, pois mal conseguimos relatar o que se passa na nossa frente, por mais belo e interessante que seja o cenário, quando está fora do que planejamos. 

Essa batida insana, o corpo até  suporta, mas  nos desiquilibra emocionalmente e nos sentimos sugados.  Quando atingimos os objetivos, vêm embrulhados em papel comum, sem fita de presente. Apenas chegamos lá com o peso da vitória.  E nada mais especial que chegar lá de corpo e alma, tendo a sensação de que ganhamos o ouro, mas  não nos perdemos  na  trilha, não abandonamos amigos nem velhos e bons hábitos, não  nos  adulteramos, porque privilegiamos, antes de tudo, o Ser.

Comments

comments

Categorias: Blog

Ceiça Monteiro

Ceiça Monteiro - Acredito na força do pensamento e no poder das palavras, que precisam ser positivas para que nos tornemos mais iluminados.

0 comentário

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *